Em uma decisão que dividiu a comunidade radioamadora brasileira, a Anatel oficializou que, a partir de outubro de 2025, não será mais exigida a prova de telegrafia para a migração de radioamadores da Classe C para a Classe B. A medida, publicada como parte de um esforço de modernização e desburocratização dos processos, representa uma das maiores mudanças no sistema de habilitação desde a década de 1990.
Para os mais puristas, é como tocar um “silent key” simbólico em homenagem à era de ouro da radiocomunicação, quando o código Morse era não apenas uma habilidade técnica, mas um verdadeiro rito de passagem. Muitos veteranos já se pronunciaram, com certa melancolia (e até revolta), ao ver uma tradição centenária perder seu caráter obrigatório. Para outros, no entanto, a medida chega com anos de atraso, corrigindo o que consideram uma barreira obsoleta ao crescimento do radioamadorismo no Brasil.
Um novo paradigma no ingresso à Classe B
A mudança foi oficializada por meio de resolução da Anatel em 2024, mas entrará em vigor apenas em outubro de 2025, com o objetivo de permitir um período de adaptação tanto para os candidatos quanto para os núcleos regionais da LABRE e os grupos que tradicionalmente organizam os cursos preparatórios.
Com a retirada da telegrafia como pré-requisito, os exames para Classe B passarão a focar exclusivamente em conhecimentos técnicos, legislação e ética operacional, mantendo a exigência de maior domínio sobre circuitos, propagação e operação em faixas mais técnicas — mas sem o emblemático teste de 5 palavras por minuto.

O que se perde e o que se ganha?
Segundo a Anatel, a intenção é “estimular a renovação da comunidade radioamadora” e facilitar o acesso de novos operadores às faixas de HF, especialmente em um momento em que os modos digitais ganham cada vez mais relevância. Hoje, softwares como FT8, JS8Call, VARA e até mesmo o velho RTTY oferecem alternativas eficazes à comunicação de longa distância, sem exigir habilidade manual com manipulares ou decodificação auditiva.
Contudo, os defensores da telegrafia argumentam que a CW continua sendo um modo insubstituível em determinadas situações, especialmente em operações de emergência, expedições (DXpeditions) e concursos internacionais, onde sua eficiência espectral e simplicidade técnica ainda reinam. Muitos consideram a retirada do teste como uma espécie de “nivelamento por baixo”, temendo a formação de radioamadores menos preparados para os desafios das bandas de HF.
CW não morreu — apenas deixou de ser porta de entrada
É importante destacar que a telegrafia continua perfeitamente legal e incentivada, sendo inclusive motivo de orgulho para milhares de operadores brasileiros. Grupos como o CW Brasil, GPCW e os próprios núcleos da LABRE seguem ativos, oferecendo cursos, encontros virtuais e atividades que mantêm a chama da “musiquinha do éter” viva.
Além disso, a CW será sempre um diferencial operacional. Em contextos onde o ruído é intenso ou onde cada watt de potência faz diferença, operadores habilidosos em código Morse continuarão tendo uma vantagem técnica concreta. A diferença, agora, é que o aprendizado será por paixão, não por obrigação.

E agora?
A decisão da Anatel representa mais do que uma alteração burocrática — é um sinal dos tempos. O radioamadorismo precisa se renovar para sobreviver. Atrair jovens, incorporar tecnologia, abraçar a experimentação e diminuir entraves são estratégias que já vêm sendo adotadas por países como os EUA, Japão e Alemanha, e que agora ganham força também por aqui.
Ainda assim, vale uma reflexão: ao remover a exigência da telegrafia, estaríamos jogando fora um patrimônio cultural do radioamadorismo? Ou estaríamos finalmente libertando o hobby de uma prisão nostálgica que afasta novos entusiastas?
Como tudo no universo dos radioamadores, essa resposta será debatida no dial, nos grupos, nas rodadas e nos QTCs. Mas uma coisa é certa: o “di-di-di-dah, dah-dah-di-dah” ainda vai ecoar por muito tempo no éter — talvez agora, mais por amor do que por imposição.
Você é a favor ou contra o fim da exigência da prova de CW para a Classe B? Comente abaixo, compartilhe sua opinião e participe do debate!